
A desistência da Apple em produzir um carro elétrico após uma década e um investimento de US$ 10 bilhões contrastou fortemente com o sucesso da Xiaomi, que em apenas três anos lançou seu primeiro EV e entregou 135 mil unidades na China.
A empresa chinesa não só entrou no setor automotivo rapidamente, como também pretende dobrar sua produção em 2025, evidenciando o domínio da China na cadeia produtiva dos veículos elétricos.
A grande vantagem da Xiaomi foi sua capacidade de aproveitar a infraestrutura já consolidada da China para EVs, segundo reportagem do The New York Times.

Enquanto a Apple lutava para construir sua própria base de suprimentos e entender a complexidade da indústria automotiva, a Xiaomi utilizou componentes de fornecedores chineses bem estabelecidos, garantindo acesso rápido e barato a peças essenciais.
Essa agilidade permitiu que a empresa acelerasse sua entrada no setor e competisse diretamente com montadoras tradicionais.
O SU7, primeiro modelo da Xiaomi, foi lançado em março de 2024 e rapidamente se destacou por seu design e tecnologia. O CEO da empresa, Lei Jun, afirmou que o carro tem inspiração na Porsche, mas com um preço muito mais acessível – apenas US$ 30 mil, cerca de um quarto do valor de um Porsche Taycan.

O sedan conta com inteligência artificial para auxiliar no estacionamento, reprodução de filmes para passageiros e até integração com os dispositivos domésticos da Xiaomi, tornando-se uma verdadeira extensão do ecossistema da marca.
A Xiaomi já planeja expandir sua linha de veículos com o SUV YU7 e, mais recentemente, lançou uma versão de alto desempenho, o SU7 Ultra.
Para promover o modelo, a empresa realizou um teste no circuito de Nürburgring, na Alemanha, onde alegou ter estabelecido um recorde para sedãs de quatro portas.
Embora o SU7 ainda represente uma pequena parcela do mercado chinês de EVs, seu impacto já foi sentido: as vendas da Porsche na China caíram quase 30% desde o lançamento do modelo.

Além da Xiaomi, outras gigantes chinesas da tecnologia também estão entrando no setor automotivo. A Huawei, por exemplo, desenvolve softwares para direção autônoma e colabora com montadoras como Seres Group, SAIC Motor, BAIC e Chery.
Isso demonstra como a China não só domina a produção de veículos elétricos, mas também se destaca no desenvolvimento de tecnologia automotiva.
As montadoras chinesas vêm se beneficiando há anos de generosos incentivos governamentais, o que lhes permitiu consolidar o controle da cadeia produtiva, incluindo o fornecimento de minerais essenciais para as baterias.
Isso deu a empresas como BYD e CATL uma vantagem competitiva global, tornando-as as maiores fabricantes de baterias para EVs do mundo.

A Xiaomi soube tirar proveito dessa estrutura, utilizando baterias da BYD e CATL e assumindo uma fábrica do grupo Beijing Auto para agilizar sua produção. Atualmente, uma segunda planta está em construção em Pequim, operando 24 horas por dia para atender à crescente demanda.
Com a intensa competição no mercado interno, as montadoras chinesas estão cada vez mais voltadas para a expansão global. A BYD, por exemplo, vendeu mais de 4 milhões de veículos em 2023 e já desafia a Tesla no segmento de elétricos acessíveis.
Segundo especialistas, é apenas uma questão de tempo até que os carros da Xiaomi também cheguem a mercados internacionais.
A popularidade da Xiaomi no setor de eletrônicos lhe dá uma vantagem estratégica sobre muitas montadoras. Além de um profundo conhecimento dos hábitos de consumo dos chineses, a marca também aposta na personalização.
No primeiro dia de entrega do SU7, os compradores já podiam acessar a loja de aplicativos da Xiaomi para adquirir acessórios como relógios analógicos para o painel e botões físicos adicionais para a tela sensível ao toque do carro.
O sucesso da Xiaomi reforça a ideia de que vender carros não é apenas uma questão de tecnologia e preço – é também uma questão de identidade e conexão emocional com os consumidores.
Se a empresa conseguir levar essa estratégia para o mercado global, pode se tornar uma das grandes forças da indústria automotiva nos próximos anos.

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