A recente proposta de unir Honda e Nissan sob uma única holding está gerando debates intensos na indústria automotiva.
Anunciada por Toshihiro Mibe, CEO da Honda, a ideia de integrar duas empresas com desafios financeiros e operacionais significativos é vista como uma tentativa de sobrevivência em um mercado global cada vez mais competitivo, especialmente no segmento de veículos elétricos (EVs).
No entanto, as dúvidas sobre a compatibilidade das marcas e o impacto real da fusão são difíceis de ignorar.
A rápida ascensão dos EVs na China e na Europa está pressionando as montadoras tradicionais a buscar escala e eficiência.
Tanto Honda quanto Nissan estão atrasadas no segmento elétrico, e a consolidação de recursos — como plataformas, fábricas, cadeias de suprimento e despesas com pesquisa e desenvolvimento — pode ajudar ambas a enfrentar essa lacuna.
Segundo analistas, a Honda, sendo de porte médio, precisa de um parceiro para ganhar escala no mercado global. A Nissan, apesar de seus problemas financeiros, ainda possui vantagens como uma vasta rede de fábricas e a experiência pioneira no desenvolvimento de EVs com o Leaf.
O modelo Sakura, atualmente o EV mais vendido no Japão, também é um ativo valioso.
Por outro lado, os problemas estruturais de ambas as empresas tornam a fusão arriscada. A Nissan enfrenta uma grave sobrecapacidade na China e uma linha de produtos desatualizada nos Estados Unidos.
Sua rede de concessionárias nos EUA está desmotivada, com quase 40% dos showrooms registrando prejuízos no primeiro semestre de 2024. Já a Honda, embora mais estável financeiramente, também luta para acompanhar o ritmo no mercado de EVs.
Além disso, especialistas apontam que a sobreposição de operações pode ser mais um obstáculo do que uma vantagem. “Ambas as empresas precisam otimizar suas capacidades antes de uma fusão,” disse James Hong, analista da Macquarie Securities.
Há indícios de que o governo japonês está influenciando a possível fusão, com o objetivo de evitar que a Nissan caia em mãos estrangeiras. Notícias sobre o interesse da Foxconn, gigante taiwanesa fabricante de iPhones, em adquirir a Nissan aceleraram as negociações entre as duas montadoras.
Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan exilado no Líbano, sugeriu que a fusão pode ser mais motivada por política do que por lógica comercial.
“Quando você coloca controle acima de desempenho, as chances de sucesso diminuem,” afirmou Ghosn.
O Que Cada Parte Pode Ganhar
Embora a fusão tenha desafios, também há oportunidades. A Honda planeja dobrar suas vendas anuais de híbridos para 1,3 milhão até 2030, e a rede de concessionárias da Nissan nos EUA poderia ajudar a distribuir esses modelos.
Além disso, a lucrativa divisão de motocicletas da Honda, particularmente forte no Sudeste Asiático, poderia fornecer uma estabilidade financeira de curto prazo para o grupo combinado.
O Futuro Ainda É Incerto
A integração completa das operações de Honda e Nissan não deve ocorrer antes de 2026, e os benefícios de longo prazo são incertos.
Mesmo que a fusão avance, levará anos para saber se a combinação será capaz de resolver os problemas estruturais das duas empresas.
Enquanto isso, o mercado observa com ceticismo. A proposta, embora ambiciosa, pode acabar sendo um exemplo clássico de uma tentativa de unir forças sem antes resolver os desafios individuais.
Se a fusão não for acompanhada de uma reestruturação eficiente, corre o risco de criar uma entidade ainda mais vulnerável no competitivo mercado global de veículos elétricos.
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