Um escândalo envolvendo a Tata Group, proprietária da Jaguar Land Rover (JLR), revelou como um engenheiro foi alvo de retaliação após denunciar falhas graves de segurança em veículos elétricos (EVs) projetados pela multinacional, segundo revelou o site da BBC.
Hazar Denli, especialista em chassi e ex-funcionário da Tata Technologies, levantou preocupações sobre componentes defeituosos em carros da VinFast, cliente da Tata, e acabou sendo demitido e banido do setor automotivo.
Denli começou a trabalhar no projeto em setembro de 2022, liderando a equipe responsável pelo chassi e suspensão frontal de modelos desenvolvidos para a VinFast. Ele rapidamente identificou problemas graves nos veículos.
Durante testes, componentes essenciais da suspensão falhavam após menos de 25 mil km, muito abaixo da durabilidade esperada de 150 mil km.
Entre as falhas mais perigosas, ele destacou o afrouxamento da conexão entre o suporte do amortecedor e o cubo da roda, um problema que poderia fazer o veículo perder controle ao passar por um buraco em alta velocidade.
“Em um cenário de acidente, o veículo poderia perder totalmente o controle e se tornar extremamente inseguro”, explicou Denli.
Ele informou seus superiores na Tata Technologies e sugeriu uma revisão completa do projeto, com a fabricação de peças mais seguras e de melhor qualidade.
No entanto, isso aumentaria os custos e atrasaria a produção, algo que a VinFast não estava disposta a aceitar, pois buscava lançar os modelos para levantar recursos na Bolsa de Nova York.
Produção acelerada, segurança comprometida
Apesar das advertências de Denli, a VinFast decidiu seguir adiante com o cronograma de produção, ignorando os riscos apontados. Desiludido, Denli pediu para ser transferido a outro projeto, mas seu pedido foi negado.
Em maio de 2023, ele decidiu se demitir.
Mesmo após deixar a Tata, Denli continuou acompanhando relatos de problemas nos modelos da VinFast já vendidos. Ele viu vídeos de carros com rodas que se soltavam, veículos que pegavam fogo em concessionárias e até um caso de um carro que andou em marcha à ré sem motorista.
Um dos casos mais graves ocorreu em abril de 2024, quando uma família de quatro pessoas morreu na Califórnia após um veículo da VinFast perder o controle, sair da estrada e pegar fogo.
Pouco tempo depois, a Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário dos EUA (NHTSA) iniciou uma investigação sobre o modelo VF8, reportando 28 queixas de falhas em sistemas de assistência de direção.
Postagens no Reddit e retaliação
Preocupado com os riscos à segurança pública, Denli fez postagens anônimas no Reddit, alertando sobre os problemas que ele havia identificado nos veículos da VinFast.
Em uma das postagens, ele escreveu: “Nunca entraria em um VinFast, e jamais deixaria meus entes queridos entrarem em um também.”
As postagens geraram reações internas. Documentos obtidos por meio de uma solicitação de acesso a dados mostram que a Tata Technologies identificou Denli como o autor das postagens.
Executivos da Tata pressionaram a JLR, onde Denli havia começado a trabalhar, a demiti-lo. Patrick Flood, diretor de RH da Tata Technologies, afirmou em um e-mail que Denli poderia “fazer o mesmo” com a JLR.
Em julho de 2024, Denli foi demitido da JLR e adicionado a uma lista negra em uma plataforma de recrutamento, bloqueando sua chance de conseguir novos trabalhos no setor automotivo.
Investigação e debate sobre proteção a denunciantes
As denúncias de Denli agora são objeto de uma investigação formal da NHTSA, que está revisando 3.118 veículos da VinFast vendidos nos EUA.
As falhas incluem sistemas de assistência de direção que não detectam corretamente as faixas da estrada, fornecem comandos incorretos e são difíceis de serem anulados pelo motorista.
A história de Denli gerou apelos por maior proteção a denunciantes no Reino Unido. Especialistas em defesa de direitos trabalhistas afirmam que casos como esse são comuns e expõem a fragilidade das leis atuais.
Baronesa Susan Kramer, ex-ministra dos transportes, defendeu a criação de um “Escritório do Denunciante” para proteger profissionais que expõem riscos à segurança pública.
“Denunciantes frequentemente pagam um preço alto por fazer o que é certo, sendo demitidos e bloqueados no mercado de trabalho”, afirmou.
Enquanto isso, Tata Group, JLR e VinFast recusaram-se a comentar o caso, alegando tratar-se de um processo legal em andamento.
Denli, por sua vez, mantém sua posição: “Eu falei porque vidas estavam em risco. Se isso incomodou a Tata, talvez devessem ter priorizado a segurança em vez de me silenciar.”
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