A BMW está reforçando seus investimentos em motores a combustão e híbridos, à medida que a transição para veículos elétricos se torna cada vez mais incerta.
A montadora alemã prevê um “caminho turbulento” para os EVs, especialmente com as mudanças políticas após a volta de Donald Trump à presidência.
Jochen Goller, membro do conselho da BMW responsável por clientes, marcas e vendas, afirmou ao The Financial Times, que a empresa segue otimista em relação às vendas de modelos a gasolina e híbridos plug-in, mesmo que a demanda por elétricos desacelere nos próximos anos devido a possíveis revisões nas políticas ambientais do governo norte-americano.
“Acreditar que a eletrificação é um caminho sem volta seria ingênuo. Será uma montanha-russa”, declarou Goller ao Financial Times na sede da BMW em Munique. “Por isso, estamos investindo nos motores a combustão, em híbridos modernos e também continuamos a expandir nossa linha de elétricos.”
A BMW tem adotado uma abordagem cautelosa em relação à eletrificação, evitando depender exclusivamente dos EVs.
Enquanto rivais como Volkswagen e Mercedes-Benz apostaram em uma transição acelerada para os elétricos e agora enfrentam dificuldades, a BMW optou por um portfólio diversificado, oferecendo desde carros convencionais até híbridos e EVs que compartilham plataformas e design semelhantes.
Essa estratégia tem rendido bons frutos. Em 2023, as vendas globais de modelos totalmente elétricos da BMW cresceram 13,5%, totalizando 426.594 unidades e representando 17% do volume total.
Quando incluídos os híbridos, os eletrificados corresponderam a 24% das vendas.
A empresa também se destaca por sua menor exposição aos impactos da guerra comercial dos EUA. Com 65% de seus veículos vendidos no país sendo produzidos localmente, a BMW está mais protegida contra tarifas que poderiam afetar importações de suas fábricas europeias e asiáticas.
O analista Patrick Hummel, do UBS, acredita que a montadora está bem posicionada globalmente, especialmente fora da China, e que seu equilíbrio entre diferentes tecnologias de propulsão a coloca à frente de concorrentes.
Já Philippe Houchois, analista da Jefferies, elogiou a BMW como uma das montadoras mais estratégicas ao longo dos anos.
Este ano, a BMW lança sua aguardada plataforma Neue Klasse, que será a base para uma nova geração de elétricos com maior autonomia, carregamento mais rápido e aprimoramentos em software.
A expectativa é que essa tecnologia reforce sua liderança no desenvolvimento de veículos definidos por software e na oferta de múltiplas opções de motorização.
No entanto, a China segue como um desafio. As vendas da BMW e da Mini no país caíram mais de 13% em 2023, chegando a 714.530 unidades, uma retração mais acentuada do que a de concorrentes como Mercedes-Benz e Audi.
Analistas do Citigroup alertam que a BMW ainda está vulnerável ao mercado chinês, onde a crescente competição e a guerra de preços têm forçado montadoras estrangeiras a reduzir suas margens de lucro.
Goller reconhece que a era de crescimento explosivo da economia chinesa ficou para trás, mas insiste que o país ainda representa uma oportunidade para a marca. “O mercado ainda está crescendo e queremos continuar participando desse crescimento”, afirmou.
A BMW também admite que as marcas chinesas estão avançando rapidamente no mercado doméstico, mas não vê isso como uma ameaça insuperável. “Os carros chineses são tecnologicamente muito bons”, comentou Goller. “Mas não temos medo.”
Enquanto outras montadoras ainda buscam um modelo sustentável para a transição elétrica, a BMW segue apostando em sua estratégia flexível, oferecendo múltiplas opções para atender diferentes mercados e cenários políticos, sem comprometer sua rentabilidade.
Quer receber todas as nossas notícias em tempo real?
Acesse nossos exclusivos: Canal do Whatsapp e Canal do Telegram!
