Nos Estados Unidos, onde vastas rodovias, subúrbios espalhados e sistemas de transporte público negligenciados dominam o cenário, os carros são a principal escolha para locomoção.
O mesmo acontece em grande parte do Brasil, pois as cidades não são feitas para promover o uso de bicicletas, transporte público nem mesmo andar a pé.
No entanto, um novo estudo revela que essa extrema dependência automotiva está afetando negativamente a felicidade e a satisfação com a vida dos americanos.
Mais de 90% das residências americanas possuem pelo menos um veículo, e 87% dos americanos usam seus carros diariamente. Em 2024, um recorde de 290 milhões de veículos circulou pelas ruas e rodovias do país.
Embora possuir um carro ofereça acesso, autonomia e conveniência, depender dele para mais de 50% das atividades fora de casa está associado a uma queda significativa na satisfação com a vida, segundo o estudo liderado por Rababe Saadaoui, especialista em planejamento urbano da Universidade Estadual do Arizona.
“Ter um carro é melhor do que não ter, mas há um ponto em que o uso excessivo começa a trazer mais desvantagens do que benefícios”, explicou Saadaoui.
O estudo analisou dados de uma pesquisa nacional com americanos de diferentes contextos socioeconômicos e demográficos. Além da relação com os carros, fatores como renda, situação familiar, raça e deficiência foram considerados.
Os resultados mostraram que dirigir excessivamente pode ser estressante devido ao trânsito constante, custos de manutenção, redução de atividade física e menor interação social.
Saadaoui apontou que o equilíbrio é fundamental: “Para muitas pessoas, dirigir não é uma escolha, mas diversificar as opções de transporte pode melhorar a situação.”
Décadas de investimentos em rodovias incentivaram o desenvolvimento de subúrbios extensos, onde até mesmo pequenas viagens exigem um carro. Hoje, metade das viagens de carro nos EUA tem menos de três milhas.
Embora o governo de Joe Biden tenha prometido reconstruir redes de transporte público e remover rodovias que fragmentam comunidades, os investimentos em estradas continuam superando os destinados a alternativas de mobilidade.
Em 2025, o governo federal planeja investir mais de US$ 60 bilhões em estradas e pontes.
Enquanto alguns americanos escolhem viver sem carro em comunidades caminháveis, para muitos a ausência de um veículo é uma imposição devido à pobreza ou incapacidade física.
Anna Zivarts, autora do livro When Driving Is Not an Option, descreve a exclusão enfrentada por quem não dirige.
“Tudo é projetado para quem tem carro”, afirmou Zivarts. “Embora Seattle tenha um bom sistema de ônibus, muitas vezes sou a única mãe indo a eventos sem um carro.”
Zivarts também destacou que melhorar as opções de transporte público e criar comunidades caminháveis requer esforços a longo prazo, mas ouvir as necessidades de pessoas sem carros seria um passo imediato.
“Precisamos incluir as vozes de deficientes, idosos, imigrantes e pessoas de baixa renda nas decisões sobre transporte”, disse ela.
A dependência excessiva de carros nos EUA não é apenas uma questão de mobilidade, mas também de bem-estar social.
Tornar as comunidades mais acessíveis a pé, melhorar o transporte público e considerar as necessidades de quem não pode dirigir são medidas essenciais para reduzir os impactos negativos desse sistema profundamente enraizado.
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