Uma concessionária de veículos nos Estados Unidos foi acusada de desativar milhares de carros de clientes remotamente, mesmo quando os pagamentos estavam em dia.
A U.S. Auto Sales, que operava 39 lojas no sudeste do país, vendia carros para pessoas com crédito ruim e, como parte do negócio, instalava rastreadores GPS e dispositivos de bloqueio remoto nos veículos.
O objetivo declarado era garantir que os clientes cumprissem os pagamentos, mas investigações federais revelaram que a empresa usou esse poder de forma abusiva, deixando motoristas presos em estradas, estacionamentos e até impossibilitados de chegar ao trabalho ou buscar os filhos na escola.
De acordo com um processo movido pelo Departamento de Proteção Financeira ao Consumidor dos EUA, a U.S. Auto ativou os bloqueios indevidamente milhares de vezes.
Pelo menos 7.500 veículos foram desativados mesmo quando os clientes estavam em dia com os pagamentos, dentro do período de carência ou já tinham combinado um acerto.
Além disso, o sistema da empresa enviou mais de 71.000 alertas falsos de desligamento.
Clientes relataram que seus carros não ligavam sem qualquer aviso, muitas vezes quando estavam saindo do trabalho ou tentando visitar um parente no hospital.
Se o problema acontecesse à noite, quando o atendimento ao cliente da empresa estava fechado, os motoristas simplesmente ficavam sem opção. Há registros de pessoas presas em supermercados, estacionamentos e até dormindo no carro porque não conseguiam voltar para casa.
A empresa de financiamento da concessionária, USASF Servicing, foi condenada pela justiça a pagar 42,6 milhões de dólares por essa e outras práticas abusivas, como cobrança excessiva de juros e taxas, seguros cobrados duas vezes e retenção ilegal de reembolsos.
Mas a decisão veio tarde demais, pois a U.S. Auto já havia fechado as portas e declarado falência, tornando improvável que os clientes prejudicados recebam algum reembolso significativo.
Além dos bloqueios indevidos, ex-funcionários revelaram que a empresa ignorava reclamações e, em alguns casos, até se aproveitava da confusão para arrancar mais dinheiro dos clientes.
Quem ameaçava levar o caso para a imprensa ou para órgãos reguladores podia receber um crédito na conta ou até um vale-presente para se acalmar. Mas aqueles que não reclamavam simplesmente ficavam sem resposta e perdiam dinheiro.
O impacto da falência da concessionária também trouxe novos problemas para os clientes.
Quando a U.S. Auto fechou, uma nova empresa chamada Westlake Portfolio Management assumiu a cobrança das dívidas, mas muitos consumidores descobriram que seus pagamentos anteriores não foram registrados.
Alguns tiveram seus saldos reajustados como se nunca tivessem pago nada, e outros continuaram enviando dinheiro para a U.S. Auto sem saber que ela já havia encerrado as atividades.
No meio da confusão, muitos clientes tiveram seus carros tomados por empresas de financiamento, como aconteceu com Ingrid Jackson, que comprou um Nissan Altima da U.S. Auto em 2021.
Mesmo mantendo os pagamentos em dia, ela foi surpreendida no meio da noite por um agente de recolhimento de veículos, que simplesmente levou seu carro.
As investigações contra a U.S. Auto continuam, mas especialistas afirmam que casos como esse são difíceis de punir, já que as concessionárias que atuam nesse mercado costumam desaparecer antes que a justiça consiga agir.
O Departamento de Proteção Financeira ao Consumidor reconhece que pode nunca conseguir recuperar os valores devidos aos clientes, mas garantiu que pelo menos os prejudicados poderão, no futuro, receber parte do valor de um fundo federal de compensação para consumidores.
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