A decisão da Stellantis de substituir o icônico motor HEMI V8 pelo mais moderno Hurricane 3.0 de seis cilindros turboalimentado gerou grande repercussão entre os fãs da Ram e compradores de caminhonetes.
Para o recém-recontratado CEO da marca, Tim Kuniskis, essa mudança foi mais do que uma questão técnica ou de performance; foi algo que contrariou um valor profundamente arraigado na cultura americana: a liberdade de escolha.
“Os americanos amam a liberdade de escolha mais do que qualquer outra coisa”, afirmou Kuniskis em entrevista. “Quando você tira essa liberdade e diz ‘você deve aceitar isso’, eles se revoltam. Seja algo lógico ou não, isso não importa. É antiamericano, é como se você tirasse a bandeira deles. E a reação é: ‘não, isso não vai acontecer’.”
O HEMI V8, com sua potência e sonoridade marcante, sempre foi um símbolo da robustez e do espírito das caminhonetes americanas.
Embora o Hurricane ofereça um desempenho superior em muitos aspectos, como potência e eficiência, a decisão de aposentar o motor V8 foi vista como uma ruptura com a tradição que muitos consumidores valorizam.
Kuniskis reconhece que a retirada do Hemi trouxe um impacto emocional que vai além da lógica de mercado.
“Eu escuto ‘Hemi, Hemi, Hemi’ o tempo todo. Mas preciso saber: isso é realmente sobre o motor ou sobre o fato de termos tirado algo que as pessoas amam? Somos assim como americanos. Você tira algo que amamos, e nós não gostamos disso.”
A polêmica em torno do fim do Hemi aconteceu em um momento já desafiador para a Ram. Mesmo após um facelift significativo, as vendas da linha de caminhonetes despencaram.
Em 2024, a marca registrou uma queda de 17% nas vendas anuais, com 373.120 unidades vendidas, contra 444.926 em 2023. No quarto trimestre, as vendas de 104.454 unidades representaram uma queda de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Pela primeira vez em uma década, a Ram 1500 perdeu sua posição como o terceiro veículo mais vendido nos EUA, ultrapassada pelo Toyota RAV4.
Kuniskis acredita que os problemas de vendas vão além do motor.
Ele apontou dificuldades de produção relacionadas à nova arquitetura eletrônica e ao próprio Hurricane, bem como a prioridade em lançar modelos de entrada, que não são os mais lucrativos. Ainda assim, ele não descarta que a falta do Hemi tenha contribuído para o declínio.
Embora Kuniskis não tenha confirmado planos para ressuscitar o Hemi, ele deixou a porta aberta para essa possibilidade.
“Se o desempenho dos novos modelos continuar abaixo do esperado, vamos analisar as opções. Mas, antes de tudo, preciso entender se a ausência do Hemi é realmente o problema ou se é apenas uma reação emocional”, disse ele.
O CEO destacou que, enquanto concorrentes como Ford e Toyota já migraram para motores menores e mais eficientes, a Ford ainda oferece um motor V-8 como opção, algo que ele acredita ser fundamental para agradar os consumidores americanos.
Kuniskis resumiu a questão ao afirmar que a decisão de retirar o Hemi não foi apenas técnica, mas simbólica, e talvez tenha subestimado a conexão emocional dos clientes com o motor.
“Retirar o Hemi pode ter sido uma decisão lógica, mas tirou algo que representava a liberdade de escolha que define o mercado americano.”
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