
O Kardian foi lançado há um ano, em março de 2024. Mas as vendas do crossover compacto da Renault custaram a embalar.
Depois de alguns meses empacado em torno dos 1.500 emplacamentos por mês, evoluíram para 3 mil vendas mensais no início do segundo semestre e fecharam o ano com média de 4 mil comercializações por mês – no final de 2024, entrou no ranking dos dez SUVs mais vendidos do Brasil.
Lançado nas configurações Evolution (atualmente, oferecida por R$ 118.090), Techno (R$ 129.990) e Première Edition (R$ 138.990), todas com câmbio automático de 6 marchas com dupla embreagem EDC (Efficient Dual Clutch) banhado em óleo, o Kardian cresceu suas vendas em cerca de 30% a partir de outubro, impulsionadas pelo lançamento da versão Evolution com câmbio manual, que ampliou para baixo a faixa de preços do modelo.
O Kardian Evolution MT parte de R$ 106.990 – aproximadamente, 10% abaixo da Evolution com câmbio automatizado de dupla embreagem.

O preço-base vale somente para a carroceria em Preto Nacré – a cor Branco Glacier eleva o preço em R$ 1 mil e as opções Cinza Cassiopée, Pratas Étoile ou Laranja Energy (a do modelo testado) aumentam a fatura em R$ 1.900.
Crescer no segmento de utilitários esportivos, responsáveis por cerca de 50% das vendas de automóveis novos no Brasil, parecia uma aposta fácil de ganhar.
Contudo, quando tudo indicava, no final do ano passado, que o Kardian finalmente se estabilizaria em um patamar mais elevado de vendas, o primeiro bimestre de 2025 começou de forma desanimadora para o pequeno SUV produzido em São José dos Pinhais, no Paraná.
Foram 1.675 vendas em janeiro e 1.903 em fevereiro – números que devolveram o carro às médias de vendas do início de 2024. As férias coletivas na fábrica da Renault, entre 19 de dezembro e 20 de janeiro, explicam a redução da oferta nas concessionárias brasileiras.

E a elevada quantidade de concorrentes diretos já consolidados, com sucessivas novidades do segmento, justifica eventuais oscilações nas tendências dos consumidores.
O Kardian Evolution MT traz o mesmo motor TCe 1.0 do restante da linha – um turbo flex de três cilindros com duplo comando variável e injeção direta que rende 120/125 cavalos e 20,4/22,4 kgfm com gasolina/etanol.
Produzido no Paraná pela Horse – empresa do Renault Group –, o motor tricilíndrico de 1,0 litro é uma derivação do tetracilíndrico 1.3 turbo (H5HT) usado no Duster e na picape Oroch, com um cilindro a menos.
O câmbio é o JX22 manual com 6 marchas com embreagem a seco. A não ser pela troca do câmbio automatizado de dupla embreagem pelo manual, pelos “paddles shifters” (presentes apenas nas variantes com transmissão automatizada de dupla embreagem) e pelo pedal de embreagem (exclusivo da manual), os Kardian Evolution manual e automático são idênticos.

O Kardian marcou a estreia da plataforma Renault Group Modular Platform (RGMP). As formas orgânicas e arredondadas da carroceria com volumes equilibrados e as medidas externas são preservadas na configuração manual – com 4,12 metros de comprimento, 1,75 metro de largura, 1,54 metro de altura e entre-eixos de 2,60 metros.
Permanecem de série os faróis em leds com assinatura luminosa (DRL) e a grade com novo logo “Nouvel’R” da Renault. As barras no teto modulares, as saias dianteira e traseira e os retrovisores externos têm revestimento em preto fosco no Kardian mais básico.
Na traseira, a queda acentuada do teto e a janela inclinada conferem dinamismo, reforçado pelas lanternas tridimensionais também em leds, em formato de “C”.

As rodas de 16 polegadas do Kardian Evolution MT – nas configurações Techno e Premiere Edition, têm 17 polegadas e são de liga leve – receberam do marketing da Renault a pomposa denominação “flexwheel em biton Ilhabela”.
São rodas de ferro engenhosamente cobertas por calotas com um design composto por cinco raios e acabamento diamantado, que imitam (bastante bem) o visual das rodas de liga leve.
No quesito segurança, os principais itens de série são os seis airbags (frontais, laterais e de cortina), o assistente de partida em rampa e o controle de estabilidade (ESC), controlador e limitador de velocidade, a câmera de ré, o sensor de estacionamento traseiro, o monitoramento da pressão dos pneus, o alerta de afivelamento dos cintos de segurança para todos os ocupantes, o assistente de frenagem de urgência com sinalização de alerta (não há frenagem autônoma) e o repetidor de setas laterais.

Entre os itens de conforto, destaque para o ar-condicionado digital com função auto, os retrovisores externos com ajuste elétricos, os cintos de segurança dianteiros com ajuste de altura e a luz de cortesia no porta-luvas e no porta-malas.
O painel de instrumentos digital tem 7 polegadas e o multimídia Display Link de 8 polegadas em estilo “flutuante” com espelhamento Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Há ainda computador de bordo digital, sensor de temperatura externa e ar-condicionado digital.

Experiência a bordo – Conjunto harmonioso
O acesso ao Kardian é facilitado pela boa altura do veículo. Dentro, o entre-eixos de 2,60 metros e a altura elevada colaboram com a sensação de espaço. Os bancos são ergonômicos e reforçam o conforto.
Já as opções para guardar objetos são restritas – o console central é estreito e o nicho à frente do câmbio também é diminuto.
As texturas e os padrões do habitáculo inspiram alguma modernidade, evocada por detalhes em laranja nos bancos e pela alternância de preto fosco e preto brilhante no painel, que incorpora alguns cromados.
O acabamento é simples, porém, sem falhas perceptíveis. O painel segue o visual das versões mais caras, com tela de 7 polegadas configurável.

A central multimídia com tela de 8 polegadas – menor do que a de alguns concorrentes – oferece espelhamento de celulares sem fio, enquanto o Eco-Coaching tenta ajudar o motorista a conduzir economicamente.
Com 358 litros, o porta-malas tem bom tamanho para o segmento. Todavia, há detalhes para aprimorar no SUV compacto da Renault. O botão que desativa o start-stop (que gera um certo incômodo em alguns motoristas) fica em uma posição muito escondida e não há saída do ar-condicionado para o banco traseiro.
Impressões ao dirigir – Dinâmica eficiente
Entre os motores 1.0 turbo triclíndricos disponíveis no mercado brasileiro, o TCe do Kardian é que um dos que tem o maior torque – são 20,4 kgfm com gasolina a 2 mil rpm e 22,4 kgfm com etanol a 2.250 mil rpm.

Ao combiná-lo ao câmbio manual, a Renault aproveitou para encurtar a primeira marcha para eliminar o discreto “turbolag” nas arrancadas da versão com câmbio automatizado de dupla embreagem.
No uso urbano, o conjunto funciona com eficiência. A transmissão é suave e tem boa ergonomia, embora a precisão dos engates pudesse ser maior.
Da primeira até a quarta marchas, o câmbio é curto, adequado ao uso urbano, enquanto a quinta e a sexta marchas são mais longas, voltadas para o uso rodoviário – o chamado “Overdrive”.
Embora a embreagem do Kardian Evolution MT seja macia e o câmbio seja eficiente, no uso urbano, a transmissão manual sempre é mais cansativa para o motorista que uma automática.

Os tediosos engarrafamentos das metrópoles podem fazer os R$ 11.100 de diferença no preço para a Evolution automática não parecerem tão relevantes assim. Já na estrada, o câmbio automatizado de dupla embreagem faz menos falta – nas velocidades constantes e mais elevadas, as exigências de trocas são menos frequentes.
Com 120/125 cavalos de potência, o motor oferece um zero a 100 km/h em 11 segundos, com velocidade máxima de 180 km/h. Segundo o Inmetro, o Kardian manual registrou médias de 8,4 e 12,3 km/l na cidade e de 9,7 e 14,0 km/l na estrada, respectivamente com etanol e gasolina.
As qualidades suspensivas da linha Kardian não ficam de lado na configuração mais básica. A MacPherson na dianteira e o eixo de torção na traseira controlam bem os movimentos de carroceria e oferecem bom nível de conforto aos ocupantes.
Não há muita rolagem nas curvas, mesmo em velocidades elevadas. Os ângulos de saída (36 graus) e de entrada (20 graus) e os 20,9 centímetros de altura livre em relação ao solo ajudam a transpor lombadas e encarar eventuais trilhas.
O conjunto suspensivo entrega uma filtragem decente das irregularidades no piso e transmite sensação de consistência.
Ficha técnica – Renault Kardian Evolution MT
Motor: gasolina/etanol, transversal, dianteiro, com 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote variável na admissão e no escape, com turbocompressor e injeção direta
Transmissão: manual com 6 marchas
Tração: dianteira
Potência: 125 cavalos com gasolina e 130 cavalos com etanol a 5 mil rpm
Torque: 20,4 kgfm com gasolina a 2 mil rpm e 22,4 kgfm com etanol a 2.250 mil rpm
Carroceria: crossover compacto com quatro portas e cinco lugares
Dimensões: 4,20 metros de comprimento, 1,75 metro de largura, 1,54 metro de altura e 2,60 metros de distância de entre-eixos.
Suspensão: dianteira tipo MacPherson com rodas independentes, amortecedores hidráulicos, molas helicoidais, barra estabilizadora e braços oscilantes inferiores, traseira com eixo de torção com barra estabilizadora, rodas semi-independentes, amortecedores hidráulicos e molas helicoidais
Freios: dianteiro a disco ventilado com pinça flutuante, traseiro a tambor. ABS com controle de partida em rampa e controle de estabilidade
Pneus: 205/60 R16
Peso: 1.163 kg em ordem de marcha com 460 kg de capacidade de carga
Porta-malas: 358 litros
Capacidade do reservatório de combustível: 50 litros
Preço-base: R$ 106.990. Na cor Laranja Energy da versão avaliada, sobe para R$ 108.890

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