Com o lançamento do Basalt, há quase três meses, a Citroën entrou em uma nova disputa no segmento de utilitários esportivos – no subsegmento de SUVs cupês compactos.
Até então, tal nicho era disputado apenas pelo Volkswagen Nivus e o Fiat Fastback, ambos atuando na faixa de R$ 120 mil a R$ 170 mil. E uma das principais armas do modelo da marca francesa produzido no Complexo Industrial Stellantis de Porto Real, no sul do Estado do Rio de Janeiro, é justamente o preço.
A versão Feel manual, com motor 1.0 aspirado, atualmente oferecida a R$ 96.990, assumiu o posto de utilitário esportivo mais barato comercializado no país.
Acima dela, já com motor 1.0 turbo e câmbio automático, há a intermediária Feel Turbo 200 a R$ 112.990 e a topo de linha Shine Turbo 200 a R$ 115.890 – a cor Cinza Grafito com teto preto do modelo testado acrescenta R$ 3 mil, totalizando R$ 118.890.
Ou seja, mesmo a opção mais completa do Basalt é mais barata que as configurações iniciais dos SUVs concorrentes – e está próxima em termos de preço dos hatches com equipamentos semelhantes.
Embora a produção do Basalt ainda esteja na fase inicial e ganhando escala industrial, a procura anda embalada. Tanto que a fábrica de Porto Real – de onde também saem o hatch C3 e o SUV C3 Aircross, com os quais compartilha plataforma e motorizações – não interrompeu a produção no fim de ano devido à alta demanda.
Com 4,34 metros de comprimento, 1,82 metro de largura, 1,59 metro de altura e 2,65 metros de distância de entre-eixos, o Basalt tem um design esportivo, no qual a linha de cintura e o capô altos, combinados com a reduzida área envidraçada lateral, ressaltam o caimento do teto no estilo cupê.
A frente robusta com para-lamas largos reforça o aspecto de solidez. O conjunto, combinando vincos e musculaturas, confere o que a indústria automotiva chama de “size impression” – o veículo dá a impressão de ser maior.
A altura mínima em relação ao solo elevada – são 19,2 centímetros – reforça a percepção de que o SUV-cupê compacto da Citroën se aproxima dos médios. A frente segue o visual dos “colegas de linha de montagem” C3 e C3 Aircross.
Os faróis são os mesmos, halógenos com as luzes de circulação diurna em leds separadas em duas partes. O Basalt também “herda” a assinatura luminosa bifurcada envolvendo o farol e alguns elementos de acabamento.
Já na traseira, as lanternas com grandes relevos que recortam a entrada do porta-malas são originais, com um estilo visualmente impactante.
Sob o capô, o Basalt Shine traz o mesmo motor Turbo 200 – de origem Fiat e produzido em Betim (MG) – gerenciado por um câmbio CVT com 7 marchas simuladas pré-programadas.
É o mesmo conjunto adotado na linha C3 e em outros modelos do Grupo Stellantis, como o Peugeot 2008 e o Fiat Fastback. Com 125/130 cavalos e 20,4 kgfm com gasolina/etanol, o motor faz o modelo acelerar de zero a 100 km/h em 9,7/10,2 segundos e atingir a máxima de 194 km/h.
Em relação ao conteúdo, o Basalt Shine traz câmera de ré com sensor traseiro, ar-condicionado digital, banco do motorista e volante com regulagem de altura, vidros elétricos, rodas de liga leve diamantadas com pneus 205/60 R16, controle de cruzeiro, revestimento em couro sintético nos bancos e no volante, travas elétricas com telecomando na chave, painel digital colorido de 7 polegadas e multimídia com tela de 10,25 polegadas com espelhamento sem fio para Android Auto e Apple CarPlay.
Como os fornecedores de sistemas e equipamentos são comuns à indústria automotiva, a Citroën fez um exercício de “economia criativa” para gerar a redução de preços do Basalt em relação aos concorrentes.
O interior segue o padrão simples da gama C3 e ostenta texturas e cores simpáticas, mas os materiais não transmitem percepção de grande qualidade. Os revestimentos em couro sintético da “top” Shine e os carpetes não aparentam refinamento.
Para poupar tinta, não há pintura na parte interna do cofre do motor e a base de “prime” fica aparente. Alguns equipamentos – como a luminária interna – deixam a impressão de que foram escolhidos tendo os custos de produção como prioridade única.
A mesma motivação fez os comandos dos vidros traseiros estarem na parte de trás do console central – e não nas portas traseiras, onde seria desejável encontrá-los. A indisfarçável economia de materiais fonoabsorventes permite que sons de rodagem, do vento na carroceria e do motor frequentem o habitáculo.
Itens como chave presencial, alças de teto ou um banco traseiro bipartido não estão disponíveis. Em termos de segurança, o modelo traz os obrigatórios airbags frontais, ABS e controle de estabilidade, e acrescenta apenas airbags laterais.
É pouco para o segmento de SUVs que, por terem foco familiar e maior valor agregado em comparação aos hatches, normalmente entregam mais recursos – como airbags de cortina.
Experiência a bordo – Prós e contras
O interior do Basalt deixa claro que o SUV-cupê pertence à gama C3. O espaço interno é o esperado no segmento de compactos e leva dois adultos na frente e dois atrás com algum conforto – um terceiro passageiro adulto no banco traseiro torna a viagem incômoda.
Nos bancos frontais, a boa altura da cabine do Basalt oferece espaço amplo aos ocupantes – no de trás, o caimento acentuado do teto pode causar uma sensação opressiva nos passageiros com mais de 1,80 metro.
Os bancos seguram bem o corpo, mas são um tanto rígidos. O volante, com comandos integrados, traz apenas a regulagem de altura – o ajuste de profundidade faz falta.
Não existem saídas do ar-condicionado para o banco traseiro, porém, há duas tomadas USB, posicionadas atrás do console central, entre os bancos dianteiros.
A central multimídia Uconnect com tela de 10 polegadas e conexão sem cabo é o destaque visual e o item mais tecnológico do habitáculo do Basalt. A tela não tem controle físicos, todavia, é ampla e ostenta os comandos permanentemente na própria tela, que também exibe as imagens da câmara de ré.
Felizmente, os controles do ar-condicionado digital não foram integrados ao multimídia. O painel digital de 7 polegadas traz as informações mais importantes, mas não permite ver os dados de consumo e o conta-giros ao mesmo tempo.
O porta-malas, com seus 490 litros de capacidade, é bem aproveitável e é um ponto alto do modelo.
Impressões ao dirigir – O melhor da família
O motor GSE 1.0 turbo de três cilindros do Basalt Shine, o T200 de origem Fiat, é moderno e conta com válvulas de admissão controladas pelo sistema eletro-hidráulico Multiair.
Não vibra muito e responde prontamente às solicitações do acelerador. Dá conta dos 1.190 quilos do SUV cupê da Citroën e oferece acelerações e retomadas de velocidade satisfatórias, uma percepção confirmada pelo zero a 100 km/h na faixa de dez segundos (9,7 segundos com etanol e 10,2 segundos com gasolina).
Seu trabalho é bem gerenciado pelo câmbio CVT com 7 marchas pré-programadas. O entrosamento entre motor e CVT é dos melhores. O “powertrain” proporciona boa simulação das marchas, com trocas suaves.
A versão Shine traz de série piloto automático e limitador de velocidade – não é um controle de cruzeiro adaptativo, mas ajuda.
Há um discreto turbolag em baixos giros – o torque só está a pleno em 1.750 rpm – que não chega a incomodar. O modo “Sport” cumpre a função previsível e torna o comportamento mais impetuoso – porém, aumenta o consumo.
Nas ultrapassagens, basta pressionar o acelerador que o câmbio reduz as marchas para entregar o torque cheio. Da linha C3 – e da marca Citroën no Brasil –, o Basalt com motor T200 é o melhor modelo para se dirigir, com bom desempenho e algum conforto.
O sistema de bloqueio eletrônico do diferencial, disponível no Fastback com a mesma motorização, não está no Basalt – mais um detalhe que a diferença nas etiquetas de preços dos modelos ajuda a explicar.
O carro traz um bom acerto da suspensão, com o conjunto controlando bem a carroceria e superando as eventuais irregularidades do piso – quando ocorrem, o conforto dos ocupantes não é excessivamente comprometido.
Os pneus 205/60 nas rodas de 16 polegadas parecem ser uma boa opção. Quando solicitados, os freios a disco ventilados na dianteira e a tambor na traseira mostraram eficiência.
No off-road leve, o Basalt aparenta robustez. A direção elétrica é leve e agradável. Faz falta o limpador/lavador do vidro traseiro, principalmente em dias de chuva intensa.
Porém, pelo design do modelo, a retrovisão pelo espelho interno, mesmo em dias ensolarados, não é das melhores.
Ficha técnica – Citroën Basalt Shine Turbo 200 AT
Motor: gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, sobrealimentado por turbocompressor com “wastegate” elétrica e quatro válvulas por cilindro. Comando de válvulas no cabeçote por sistema eletro-hidráulico MultiAir na admissão. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico
Potência: 125/130 cavalos a 5.750 rpm com gasolina/etanol
Torque: 20,4 kgfm a 1.750 rpm com gasolina/etanol
Transmissão: tipo CVT com 7 velocidades pré-programadas
Tração: dianteira
Suspensão: dianteira tipo MacPherson independente com barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás, traseira com travessa deformável, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás
Pneus: 205/60 R16
Freios: disco ventilado na frente e tambor na traseira, com ABS e EBD
Carroceria: utilitário esportivo cupê em monobloco com quatro portas e cinco lugares
Dimensões: 4,34 metros de comprimento, 1,82 metro de largura, 1,59 metro de altura e 2,65 metros de entre-eixos
Peso: 1.191 quilos
Porta-malas: 490 litros
Tanque de combustível: 47 litros
Preço: R$ 115.890. No modelo testado, a cor Cinza Grafito com teto preto acrescenta R$ 3 mil, totalizando R$ 118.890.
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